quem cuida do cuidador
tenho buscado criar conteúdo ao menos uma vez por mês aqui e, agora que estou passando por recuperação pós-cirúrgica, muita coisa tem passado na minha cabeça de pai.
eu estou me sentindo acabado de dor, do corpo e da mente, foram duas cirurgias de uma vez, hemorroidectomia e fistulectomia, é uma dor que não é gritante, mas constante.
uma dor que me impede de fazer as coisas que mais gosto: cagar na paz passar horas jogando Fortnite no PC e praticar esportes (corrida, jiu-jitsu e capoeira).
com dor, é muito fácil embaçar a vista e odiar o mundo.
mas respirando fundo tem coisas que não é possível deixar de ver: sou muito grato pela minha família e pelo SUS.
pelo SUS, porque foi como consegui resolver em menos de 6 meses um problema que tenho desde o fim da infância (e só piorou).
pela minha família, porque obviamente eu não teria condição alguma como pai solo de dar conta de tudo e estar de repouso ao mesmo tempo.
e no meio dessa raiva causada pela dor e essa busca por enxergar coisas positivas ao meu redor é que saquei uma coisa:
meu filho se tornou parte da minha rede de apoio.
na minha jornada de pai solo tive muito tropeços, tropeços esses que alimentaram por muito tempo sentimentos de culpa.
(nada que minha terapia não tenha ajudado a corrigir rota ou que a terapia dele não o ajude a lidar)
mas uma das coisas que mais me orgulho é de ter criado um garoto amável e com razoável autonomia, que sempre me ajuda sem reclamar (embora poucas vezes faça algo sem eu pedir kkkkk).
nesses dias, que estou precisando descansar, estou aproveitando pra dar mais responsabilidades pro Migs. com as roupas, a louça, os gatos e até comida, que ele tem ido buscar pra mim na casa do meu irmão.
e é estranho que eu não precise ser o “cuidador” dele, que eu possa estar um pouco nesse papel de quem é cuidado.
não é que meu filho não precise mais ser cuidado, mas essa inversão temporária de “quem cuida de quem” tem sido uma experiência interessante.
uma luz dele que talvez não me iluminasse sem esse problema que estou vivendo, mas que deve brilhar mais daqui em diante.
quem me conhece de pertinho sabe que sou bom pra soltar piadas horrorosas, mas sou péssimo pra pedir ajuda, exceto quando a coisa está muito ruim, mas tô tentando deixar de ser besta.
minha mãe e padrasto têm auxiliado com mercado, a família do meu irmão com a comida e o meu filho com minha casa.
a dor até que tenta me atentar a cabeça, pintar o mundo de vazio, mas o coração tá cheinho de gratidão e me protege de mim mesmo.
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