Anteprojeto de lei que proíbe “ideologia de gênero” nas escolas foi aprovado pelos vereadores em Pedreira/SP. Confira o episódio do podcast e entenda porque ela é, além de burra, inconstitucional.

LINKS DO EPISÓDIO

Vídeo da sessão em que a minha carta foi lida e o anteprojeto aprovado
Matéria sobre inconstitucionalidade da lei

olá, pessoal, ando sumido, né? tenho me cobrado menos quanto a estar nas redes sociais em geral e no blog também, criar conteúdo sem pressa e “não-criar” sem culpa

Imagem promocional do documentário Janelas da Quarentena, mostrando uma tela imitando uma chamada de videoconferência entre diversos pais.

tenho uma novidade que já não é tão mais nova, mas que ainda não tinha conseguido compartilhar: participei de um documentário sobre como as famílias estavam lidando com a quarentena imposta pelo coronavírus. digo estavam, no passado, porque ele foi gravado entre março e maio de 2020, e tanta coisa mudou de lá pra cá, não é mesmo?

só pra lembrar, em maio de 2020 eram +29.000 mortes por covid-19 e hoje estamos em +436.000. 

uma pandemia que se agrava a cada dia que Bolsonaro segue no poder, boicotando todas as orientações de organizações de saúde e ações de prevenção de fato, como distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, além é claro da compra de vacinas, como a CPI da Pandemia vêm mostrando. 

voltando ao documentário, Janelas da Quarentena, ele foi dirigido pelo Rodrigo Krindges e pelo Pedro de Oliveira, do canal S.E.R. Pai

e pode ser conferido gratuitamente lá, o que eu recomendo fortemente, não pela minha participação, óbvio, mas pelo retrato maravilhosamente construído deste horrendo momento que vivemos, suas dificuldades e aprendizados, tanto dos adultos quanto das crianças:

Foto com filtro cinza azulado, mostrando pai e filho segurando corações de madeira e sorrindo.

ser pai fez eu me tornar muito mais medroso, evitando mudanças (inclusive as boas). mas a “conjuntura” sempre me empurra a fazer as mudanças que preciso, não necessariamente as que quero.

tentei evitar a separação mesmo sabendo que era melhor pro Migs, pra mãe dele e pra mim.

tentei me manter num emprego onde eu arriscava minha vida toda noite ao voltar pra casa cansado de moto, pegando horas de estrada.

não queria começar um novo relacionamento por não saber como seria a nova dinâmica da família, mesmo curtindo cada dia mais com a Bruna.

não queria voltar a morar em Pedreira após anos construindo minha vida em outra cidade, mesmo sabendo que seria melhor financeiramente e que poderia reconstruir meus laços com a cidade onde nasci.

como o Miguel seria impactado pela mudança de casa? de cidade? nova escola? e os amigos? ele conseguiria fazer novos? cresceria sem raízes? que traumas estaria plantando?

após anos de terapia, eu ainda empurrava com a barriga meus problemas, criando milhares de “mas” e “e se” para evitar fazer as grandes mudanças que precisava.

esse ano eu talvez tenha feito uma das maiores e mais importantes mudanças da minha vida ao me demitir em plena pandemia de um emprego que eu não via mais sentido. num momento com 14 milhões de desempregados, sem auxílio emergencial, com filho pra criar e aluguel pra pagar.

sem escola para meu filho, um emprego que acolha essa “particularidade” de ser pai solo é pequeníssima. com escolas abertas já seria difícil, pois os horários teriam de ser flexíveis. 

mas isso não é desculpa para não mudar. ainda mais quando a opção de não mudar é adoecer.

por isso mudei, mesmo tendo medo. para meu filho não me ver fumando 10 cigarros por dia, eu trabalhando a noite, eu sem paciência para sua infância.

meu irmão tem uma fábrica onde ele faz peças em MDF e vende online. montei uma também, mas depois decidi que o melhor seria juntarmos forças. 

e já dá pra ver que essa foi a melhor escolha pra nós, pois as vendas crescem a cada dia (aproveite e passe lá). 

e já dá pra ver que também foi o melhor pra minha família, pois tenho me divertido mais com o Migs, caminhado, acompanhado ele nas lições de casa, ido ao médico pra fazer um check-up da saúde.

mas durante o aviso prévio eu ficava todo dia pensando se havia feito a escolha certa, pensando em pedir pra me aceitarem de volta e imaginando todos os cenários negativos possíveis. 

por fora, parecia confiante do rumo que escolhi; por dentro, me questionava a todo instante e tentava me agarrar a cada fiapo de motivação. mas aqui estou, com muito orgulho 🙂

você também é assim? passou por alguma grande mudança nesse tempos?

Foto com filtro cinza azulado, mostrando um quarto bagunça e meu filho me olhando da cama.

talvez, assim já de cara, a maior lição que aprendi é aquela que já sabia como filho: filhos não estão no mundo para satisfazer nossos desejos. ainda bem, inclusive.
aprendi que meu esforço me coloca no grupo dos bons pais, mas não dos ótimos nem dos ruins. ainda assim, meus cuidados não chegam perto daqueles de uma boa mãe.
falando em mãe, aprendi que não sou pãe. essa palavra feia envolve muito apagamento e romantização de uma situação que não é legal pra ninguém, nem pros pais solos e muito menos pras mães solos.
nessa década de paternidade, já passei por diversas fases e, a mais vergonha alheia, é aquela em que eu me julgava superior por ser pai solo e ser convidado a contar minha história na mídia. eu era jovem demais? era, mas isso não é desculpa. meu ascendente em Leão? talvez.
em uma década de paternidade aprendi mais com mães do que com pais. e aprendi que o termo “parentalidade” além de soar bonito é o caminho que devemos trilhar para um futuro melhor.
aprendi que produzir conteúdo digital sobre paternidade por 10 anos é uma doidera, tanta coisa mudou: orkut tava em alta quando comecei e o Google Reader também. eu confesso que perdi grande parte do ânimo que tinha no início, mas resisto porque amo escrever.
aprendi na prática que se cobrar demais é ruim, mas se cobrar de menos pode ser ainda pior. tô tentando fazer uma síntese disso ainda.
aprendi que nem tudo se deve aos nossos conselhos e exemplos. se você não cria filhos em gaiolas, ele tem um mundo inteiro de referências e você importa, mas parentes, amigos, professores, youtubers, entre outros, tem influência também.
e isso é ótimo, torna as conversas do dia a dia mais interessantes.
aprendi que nem tudo que se aprende é colocado em prática por alguma força mágica. exige um esforço do qual nem sempre estamos prontos ou para o qual temos força.
assim, aprendi que pra cuidar de um outro ser precisamos nos cuidar também. e que a casa bagunçada é um sinal de que estou uma bagunça (e isso bagunça também o Migs).
 
esse texto mesmo tá todo bagunçado, não sei se tem um fim. mas senti necessidade de botar pra fora e começar uma faxina em mim <3