Como falo sobre morte com meu filho
Eu sempre fico abalado com essas coisas, mas minha maior dor é por imaginar a dos outros. Na semana passada, pela dor da minha namorada e do vô dela. Quando meu pai morreu, pela dor da minha mãe.
E outra preocupação, é claro, é para contar ao meu filho. Vocês já passaram por isso? Como foi por aí?
No caso do meu pai, eu me segurei quando recebi a notícia e falei para o Miguel que o vovô estava muito doente no hospital e precisaríamos ir para Pedreira dar apoio pra vovó, para dar um tempo dele processar que havia algo grave, mas sem dar a informação de uma vez.
Quando chegamos lá, com toda a família chorando, chamei ele para conversarmos sozinhos e contei que o vovô havia morrido. De uma doença do coração (foi uma ataque cardíaco), que ele não havia cuidado direito (ele ingeria bebidas alcoólicas durante o tratamento de hipertensão).
Foi uma semana bem pesada que tivemos pela frente, e o Miguel, com 6 anos e meio, alternava por fases de brincar normalmente e alegre para outras de choro ininterrupto e isolamento.
Eu o apoiei e compartilhei com ele cada momento do luto, inclusive estivemos no velório.
Ele não tinha dimensão da morte e houve momentos que perguntava se o vovô ia voltar e se tinha algum jeito de vê-lo. De acordo com meu ponto de vista, expliquei que quem morria não voltava, infelizmente, mas que estaria sempre em nossas lembranças.
Aproveitei o momento para explicar que diversas religiões tinha diversas visões sobre o assunto, mostrando que eu como ateu tinha uma, mas a vovó na umbanda tinha outra, a minha namorada espírita uma diferente também e que ele poderia acreditar no que quisesse, pois ninguém sabe direito o que acontece.
Agora neste luto mais recente, explicar foi mais simples. Até porque ele sabia que minha namorada estava com o pai muito doente, ela estava sempre no hospital.
Quando soubemos da notícia, o Miguel estava de férias na vovó. Liguei por vídeo-chamada para dar a notícia e perguntar se ele queria ir no velório, ver o vovô Udininho e dar uma força para a madrasta.
Ele quis, veio, abraçou todos, ficou junto durante a reza.
E ao mesmo tempo se demonstrou curioso, com perguntas como “por que tem tampões no nariz?” ou “por que as pernas ficam cobertas pelos enfeites?” e coisas assim. Pesquisamos juntos e descobrimos algumas respostas.
Eu acredito que o luto é uma dor muito grande, tanto para adultos quanto para crianças, mas não há superação sem encarar o assunto de frente.
Dos dois vovôs, ficam as saudades dos churrascos do meu pai e das brincadeiras do meu sogro.
E o aprendizado de que saúde é coisa séria. Nós homens precisamos inserir mais exames preventivos periódicos em nossa rotina tão corrida.
Deixe uma resposta
Quer participar da discussão?Venha contribuir!