O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta. Aliás, para mulheres todos os dias são de luta, contra assédio, contra machismo, contra o silenciamento, contra a cultura de estupro e todos os outros tipos de violências.
É difícil para nós homens entendermos a realidade das mulheres e acredito que a arte, em suas mais variadas formas, pode nos ajudar a ter alguma ideia e nos fazer refletir.
Por isso pedi dicas culturais a 12 mulheres que admiro. Para que nós, homens e pais, possamos compreender melhor toda a diversidade, força e importância do olhar feminino e feminista, quebrando estereótipos sobre elas e também sobre nós. Confira:
1.
“‘Se as mulheres querem que os homens as conheçam, que eles realmente as conheçam, elas têm de lhes ensinar algo do seu conhecimento profundo.’ Assim a psicanalista Clarissa Pinkola Estés começa o quarto capítulo de Mulheres Que Correm Com Os Lobos. Este livro fala sobre entrar em contato consigo mesmo, com sua alma, sobre entender o que você precisa para fortalecer seu lado feminino inato e adormecido, e isso é humano, vale para todos! Também penso que é muito urgente a compreensão masculina de que as mulheres de suas vidas não foram feitas para serem domesticadas e sim para correrem livres e selvagens mundo afora.”
Bruna La Serra é antropóloga e mestranda em Análise do Discurso pela Unicamp, criadora do coletivo Por Aí e dona do meu coração
2.
“A série Broad City é uma representação absurdamente divertida e verossímil de uma amizade entre duas mulheres: sem rivalidades, estereótipos, clichês, com muita sororidade e verdades – mesmo as não muito bonitas. É uma brisa fresca em um universo da comédia, tão tóxico para mulheres.”
Ana Paula Gagliardi é redatora publicitária, formada em Letras pela UNICAMP e podcaster no Castionário.
3.
“Acredito que Outros Jeitos de Usar a Boca, de Rupi Kaur, é um livro que todos os rapazes deveriam conhecer. Rupi fala de temas profundos e delicados de uma maneira direta e ao mesmo tempo poética. Amor, sexo, traumas e feminilidade em poesias curtas, leitura rápida e grande impacto. Esse livro foi best-seller mundial, fazendo sucesso e gerando identificação entre as mulheres. É um bom caminho para homens interessados em compreender nossos sentimentos.”
Luciana Bento é mãe, socióloga, criadora da Iná Livros e editora do blog A Mãe Preta e do canal Quilombo Literário.
4.
“Minha indicação é o filme Como Estrelas na Terra. Ele conta a história de um menino com 9 anos que sofreu severas penalidades por parte do pai e dos professores por não conseguir ler e escrever. Porém, um professor fez a diferença na vida dele. Sempre falo que devemos ter olhares distintos para as mesmas coisas, pois tudo muda. Um pai, pode sim ter um olhar diferenciado para seus filhos e também fazer a diferença na vida deles, basta querer.”
Débora Corigliano é mãe, psicopedagoga, escritora, professora na IBFE e tem canal no Youtube.
5.
“Bordados Literários (instagram.com/bordadosliterarios) é um trabalho da Nadine. Ela é uma menina que gosta de escrever, ler e bordar. Aí ela misturou tudo isso num trabalho lindo e delicado, que apresenta autores de diversas linhas com o toque dela. Acho muito legal a proposta, acompanho e indico.”
Aline Rezende é mãe, fisioterapeuta, instrutora de yoga e idealizadora do Samadhi Corpo & Mente.
6.
“O filme Histórias Cruzadas traz tantas circunstâncias das quais as mulheres têm dificuldade de se libertar, tantas amarras próprias e impostas, que consegue traduzir um pouco das coisas que, mesmo no século XXI, nos impedem de sermos livres de verdade.”
Sam Shiraishi é mãe, jornalista, empreendedora e criadora do blog A Vida Como A Vida Quer.
7.
“Heleieth Saffioti (1934-2010) consagrou-se como uma das maiores pensadoras feministas do país, tendo como preocupação desenvolver como se dá a articulação concreta entre classe social, gênero e raça/etnia na realidade brasileira. No livro Gênero, Violência e Patriarcado, de 2004, Saffioti parte de uma pesquisa empírica apurada que data do início dos anos 2000 – portanto antes da Lei Maria da Penha -, para desvendar os contornos que a violência contra a mulher assume em nosso país. A partir de uma perspectiva histórica, esse estudo traz o conceito de patriarcado para aprofundar qual a raiz e o peso da violência contra a mulher dentro da família e na sociedade como um todo. Ótima leitura para os papais que querem repensar os papeis de gênero dentro e fora de casa!”
Carol Filho é socióloga e militante do Coletivo Feminista Rosa Lilás.
8.
Desconstruindo Una é minha dica de leitura para todos os homens que ainda não compreendem a importância da nossa luta por direitos iguais e principalmente pelo fim da cultura do estupro. O livro relata a experiência pessoal de Una desde sua infância até seu crescimento enquanto mulher numa cidade no interior da Inglaterra, numa época em que ocorreram diversos ataques de um estuprador e assassino serial que ficou conhecido como ‘Estripador de Yorkshire’. A obra tem um apelo visual muito forte, misturando belas ilustrações com histórias em quadrinhos e recortes de jornais. Isso torna a narrativa atrativa e menos densa, já que o enredo em si é bastante perturbador. Una é o pseudônimo que a autora propositalmente escolheu para representar todas as mulheres ‘em uma’, desconstruiu a si mesma para que pudesse representar todas nós!
Rose Misceno é mãe, professora, geminiana (melhor signo!) e pole dancer.
9.
Tenho duas dicas para olhar o mundo de uma perspectiva feminina: o portal Hysterya e os livros Coisa de Menina e Coisa de Menino, da ilustradora Pri Ferrari. Consumir conteúdo criado por mulheres é um grande passo na desconstrução.”
Carol Rocha, aka Tchulim, é mãe, publicitária, podcaster no Imagina Juntas e tem canal no YouTube sobre relacionamento, feminismo e maternidade.
10.
“Minha indicação é o livro Fique Com Alguém Que Não Tenha Dúvidas, da Marina Barbieri. Eu ganhei esse livro da própria e, embora eu sempre acredite no trabalho dos amigos, esse livro teve um significado muito especial e acabou transformando muito minha forma de pensar, além de ter me ajudado. A leitura se encaixa muito bem para qualquer fase em que você estiver de relacionamento – mesmo solteira – e é uma leitura muito leve e rápida.”
Renata Montenegro é mãe, ilustradora, criadora do blog e canal no Youtube Mulher Vitrola.
11.
“Para entender as mulheres nada melhor do que compreender sua história. Após serem relegadas a eras de silenciamento e invisibilidade, Michelle Perrot traz um sensível relato histórico que honra seu protagonismo merecido. Minha História das Mulheres é completamente atual e necessário para compreender o universo feminino, suas lutas e conquistas, no espaço público e privado.”
Maria Alice Ximenes é mãe, escritora, ilustradora, professora em cursos de moda e doutora em Artes pela UNICAMP.
12.
“Um novo mundo surgiu e a maior parte das pessoas tende a refutá-lo antes mesmo de conhecê-lo. Minha recomendação para os pais neste Dia da Mulher é uma obra recente, que já estou devorando: Feminismo em Comum, de Márcia Tiburi. Um livro claro e simples. Que amplia a discussão do feminismo ao tirá-lo do ambiente de antagonismo das redes sociais e trazê-lo para a luz da reflexão, do pensamento e da empatia. Porque é fácil demais classificar o feminismo ou qualquer outra luta das minorias como “muito barulho por nada” quando não estamos no papel do oprimido. Um livro que todo pai e todo ser humano precisa ler. Para finalmente entender que um mundo feminista é melhor para todos.”
Cris Guerra é mãe solo, publicitária, escritora, palestrante sobre moda e empoderamento e criadora do Hoje Vou Assim.
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Ótimas dicas, não é mesmo? Agradeço demais a todas as mulheres que toparam dar estas dicas e também as que não conseguiram seja por eu ter pedido em cima da hora, seja por estar sobrecarregada com tarefas. Sou grato a todas as mulheres com as quais convivo. Para finalizar o post, gostaria de dar duas dicas, agora de pai pra pai: 1º ouça o podcast Ponto G, que a cada episódio traz mulheres excepcionais de diversas áreas e que acabaram sendo deixadas à margem pela história, e 2º fique com seus filhos hoje para que sua mulher possa ir às ruas protestar pelos direitos dela, estão sendo organizadas marchas por todo o Brasil.
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É mulher? Aproveite os comentários para deixar outras dicas para nós pais e homens, seja cultural ou seja de comportamento. Caso não se sinta confortável tem a opção de comentar anonimamente 😉